12/01/2017

Homens​ ​são​ ​menos​ ​propensos​ ​a​ ​buscar​ ​tratamento​ ​para​ ​HIV​, diz ONU


​No Dia Mundial contra a AIDS, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) divulgou um novo relatório que mostra que os homens têm menos probabilidade de fazer o teste para o HIV, são menos propensos a buscar tratamento antirretroviral e têm mais chances de morrer por complicações relacionadas à doença do que as mulheres.
"O conceito de masculinidade nociva e os estereótipos masculinos criam condições que fazem com que relações sexuais mais seguras, testagem para o HIV, acesso e adesão ao tratamento — ou mesmo conversas sobre sexualidade — sejam desafiadoras para os homens", disse Michel Sidibé, diretor-executivo do programa da ONU. "Mas os homens precisam assumir essa responsabilidade. Essa bravata está custando vidas".
Relatório mostra que os homens têm menos probabilidade de fazer o teste para o HIV. Foto: UNICEF Etiópia
Relatório mostra que os homens têm menos probabilidade de fazer o teste para o HIV. Foto: UNICEF Etiópia
​No Dia Mundial contra a AIDS, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) divulgou um novo relatório que mostra que os homens têm menos probabilidade de fazer o teste para o HIV, são menos propensos a buscar tratamento antirretroviral e têm mais chances de morrer por complicações relacionadas à doença do que as mulheres.
O Relatório Ponto Cego (Blind spot, em inglês) mostra que, globalmente, menos de metade dos homens que vivem com HIV está em tratamento, em comparação com 60% das mulheres. Os estudos mostram que os homens são mais propensos a iniciar tardiamente, a interromper e a se desvincular dos serviços de tratamento.
"Enfrentar as desigualdades que colocam as mulheres e meninas em risco de infecção pelo vírus está em primeiro plano na resposta à AIDS", disse Michel Sidibé, diretor-executivo do UNAIDS.
"Mas há um ponto cego em relação aos homens — eles não estão usando os serviços de prevenção e testagem para o HIV e não estão buscando acesso ao tratamento na mesma escala que as mulheres."
Na África subsaariana, homens e meninos que vivem com HIV são 20% menos propensos do que mulheres e meninas vivendo com HIV a conhecerem seu estado sorológico positivo para o vírus e têm 27% menos chances de buscar acesso ao tratamento. Em 2015, em KwaZulu-Natal, a província com maior prevalência de HIV na África do Sul, apenas um em cada quatro homens vivendo com HIV, com idade entre 20 e 24 anos, conhecia seu diagnóstico.
Na África Ocidental e Central, uma região que está buscando responder eficazmente ao HIV, apenas 25% dos homens que vivem com HIV estão tendo acesso ao tratamento. Quando as pessoas não estão em tratamento, elas são mais propensas a transmitir o HIV.
"Quando os homens têm acesso a serviços de prevenção e tratamento do HIV, cria-se um bônus triplo", disse Sidibé. "Eles se protegem, protegem seus parceiros sexuais e protegem suas famílias".
O relatório destaca dados da África subsaariana que mostram que o uso de preservativos com um parceiro não regular é baixo entre os homens mais velhos, que também são mais propensos a viver com HIV — 50% dos homens com idade entre 40-44 anos e 90% de homens com idade entre 55-59 anos relataram não usar preservativo. Esses dados são compatíveis com estudos que mostram um ciclo de transmissão do HIV de homens mais velhos para mulheres mais jovens, e de mulheres adultas para homens adultos de idade similar em locais com alta prevalência do HIV.
O relatório também mostra que a prevalência do vírus é consistentemente maior entre os homens que fazem parte das populações-chave. Fora da África Oriental e Austral, 60% de todas as novas infecções por HIV entre adultos acontecem entre os homens. O relatório destaca as dificuldades particulares que os homens em populações-chave enfrentam no acesso aos serviços de tratamento, incluindo discriminação, assédio e recusa de serviços de saúde.
Os homens que fazem sexo com homens são 24 vezes mais propensos à infecção por HIV do que os homens na população em geral e, em mais de 24 de países, a prevalência do HIV entre homens que fazem sexo com homens é de 15% ou mais.
No entanto, estudos recentes sugerem que o uso de preservativos está caindo na Austrália, na Europa e nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre homossexuais e outros homens que fazem sexo com homens, que são HIV negativos, o percentual dos que têm relações sexuais sem preservativo aumentou de 35% para 41% entre 2011 e 2014.
"Não podemos deixar a complacência se estabelecer", disse Sidibé. "Se isto acontecer, o HIV ganhará força e nossas esperanças de acabar com a AIDS até 2030 serão destruídas".
O documento mostra que cerca de 80% das 11,8 milhões de pessoas que usam drogas injetáveis são homens e que a prevalência do HIV entre as pessoas que usam drogas injetáveis passa de 25% em vários países. O uso do preservativo é quase universalmente baixo entre os homens dessa população-chave e o percentual deles que usaram equipamento esterilizado durante sua última injeção varia de país para país. Na Ucrânia, por exemplo, a porcentagem de homens que utilizaram agulha esterilizada no último uso de droga injetável foi bem acima de 90%, enquanto nos Estados Unidos esse número foi de apenas 35%.
Nas prisões, onde 90% dos detentos são homens, a prevalência do HIV é estimada entre 3% e 8%, mas os preservativos e os serviços de redução de danos raramente estão disponíveis.
Embora a testagem para o HIV esteja alcançando as mulheres, particularmente as mulheres que utilizam serviços pré-natais, os mesmos pontos de entrada não foram encontrados para os homens, limitando a aceitação do teste do HIV entre eles.
"O conceito de masculinidade nociva e os estereótipos masculinos criam condições que fazem com que relações sexuais mais seguras, testagem para o HIV, acesso e adesão ao tratamento — ou mesmo conversas sobre sexualidade — sejam desafiadoras para os homens", disse Sidibé. "Mas os homens precisam assumir essa responsabilidade. Essa bravata está custando vidas".
O UNAIDS mostra a necessidade de investir em meninos e meninas mais jovens, garantindo que eles tenham acesso a educação sexual abrangente, adequada à idade, que aborde a igualdade de gênero e que seja baseada em direitos humanos, criando relacionamentos saudáveis e promovendo comportamentos voltados para a saúde tanto de meninas quanto de meninos.
Segundo o estudo, os homens vão aos estabelecimentos de saúde com menos frequência do que as mulheres, fazem menos exames e são diagnosticados mais tardiamente que as mulheres em condições que já representam risco de vida. Em Uganda, alguns homens relataram que preferem não conhecer seu estado sorológico para o HIV e não receber o tratamento capaz de salvar vidas porque associaram ser HIV-positivo com o estigma da falta de masculinidade. Um estudo na África do Sul mostrou que 70% dos homens que morreram por complicações relacionadas à AIDS nunca procuraram cuidados para o HIV.
O relatório incita os programas de HIV a estimularem os homens para que tenham acesso aos serviços de saúde e os tornem disponíveis com mais facilidade para eles. Isso inclui a disponibilização de serviços de saúde personalizados, incluindo o prolongamento dos horários de atendimento, o uso de farmácias para oferecer serviços de saúde aos homens, alcançá-los em seus locais de trabalho e lazer, incluindo bares e clubes esportivos, e usando novas tecnologias de comunicação, como aplicativos de celular.
O estudo também estimula um ambiente jurídico e político de apoio capaz de enfrentar as barreiras comuns ao acesso a serviços de HIV, especialmente para populações-chave, e de acomodar as diversas necessidades e realidades de homens e meninos.
O documento mostra que, ao permitir que os homens permaneçam livres do HIV, façam o teste regularmente e, caso sejam diagnosticados soropositivos, comecem e permaneçam em tratamento, os benefícios não irão apenas melhorar os resultados da saúde masculina, mas também contribuirão para diminuir as novas infecções por HIV entre as mulheres e meninas e alterar normas prejudiciais de gênero.

Números

● 20,9 milhões de pessoas tinham acesso à terapia antirretroviral em junho de 2017;
● 36,7 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com HIV em 2016; houve 1,8 milhão de novas infecções e 1 milhão de mortes por doenças relacionadas à AIDS naquele ano.

Acesse o relatório Ponto Cego na íntegra clicando aqui (em inglês).


Fonte: ONU Brasil

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