3/10/2020

Artigo do Dr. Rosinha: É hora de ir às ruas e colocar os ratos para longe do poder do Estado

Desenho: Beto Mafra

Para que servem os ratos?
Não, não é isso, não.
Comecei este texto com a pergunta errada.
Na verdade, as perguntas corretas são duas:  O que é o rato?; Quem é o dito cujo?
Rato é a designação de alguns pequenos mamíferos (roedores) das famílias Muridae, Cricetidae, Heteromyidae, Diatomydae e Batheyergide (obrigado, Wikipédia).
O camundongo (rato doméstico), da família Muridae, e a ratazana estão presentes no mundo inteiro, sendo responsáveis pela disseminação de doenças e destruição de grande quantidade de alimentos.
Mas de tudo isso o que nos interessa aqui é que o rato é um roedor. Um predador.
Informa o Houaiss: predador é o “que destrói o ambiente em que atua, ou os elementos dele (diz-se de qualquer agente)”.
Atentem bem ao que diz o Houaiss: qualquer agente.
Imagino que quase todo mundo tem alguma história para contar, envolvendo camundongo ou ratazana.
Eu me lembro de um. Faz mais de 20 anos. Foi em Caldas Novas (GO).
Minha companheira e eu estávamos passeando, quando, de repente, um grupo de pessoas correu pela calçada em nossa direção.
Assustados, paramos para ver o que estava acontecendo. Atrás daquela pequena multidão vinha um rato fugindo de quem o perseguia. No corre-corre, um sujeito deu-lhe uma bicuda. O pequeno animal voou longe. Não sei se sobreviveu.
Nas eleições de 2018, eu concorri ao cargo de governador do Paraná.
Em um dos meus contatos com eleitores,  ouvi de um cidadão, em tom irônico e homofóbico: “o que vão pensar de um estado governado por alguém chamado de Rosinha”. E, com um riso histriônico, concluiu: “governador Rosinha!”
Ouvi atentamente a desfeita e, sem nenhum julgamento moral e/ou de seriedade no trato da coisa publica, respondi, referindo-se a um dos outros candidatos: “não seria pior o estado ser governado por alguém conhecido como Ratinho?”
Ratinho, aliado de Bolsonaro, vence as eleições e hoje é o governador do Paraná.
Ratinho não difere de Jair M. Bolsonaro. Identificam-se ideológica e programaticamente.
Juntos, corroem ou roem tudo o que é público. São predadores dos sistemas públicos de saúde, educação, enfim de todos os serviços públicos e também dos direitos dos trabalhadores.
Ideologicamente, nunca ouvimos qualquer discordância entre os dois.
Tanto que, até agora, Ratinho não disse uma palavra condenando o ato do dia 15 de março convocado por  fascistas contra a democracia e as nossas instituições.
Enquanto os líderes políticos pregam um novo AI-5, Ratinho não sai da toca, ou melhor da sua cadeira,  para se manifestar contra.
As políticas executadas em Brasília são repetidas pelo governador Ratinho.
Isso quando não antecipadas, principalmente quando se trata de roer os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras. Por exemplo, o direito de no futuro ter uma aposentadoria digna.
A política de privatização é a mesma. Dou um exemplo: a Copel Telecom, que presta serviço ao povo do Paraná há 40 anos.
No início, essa empresa era um departamento da Copel (Companhia Paranaense de Energia), que colocou fibra ótica em todos os 399 municípios do Paraná e fez do nosso estado o único a ter internet em todo o seu território.
Ao invés de ampliar os serviços e construir uma rede pública de atendimento dos serviços públicos de saúde, educação, etc., Ratinho quer privatizá-la, ou seja, roer o patrimônio público.
A Copel e a Sanepar, companhia de saneamento, praticamente  estão privatizadas, tendo como objetivo final dar lucro aos seus sócios em vez de atender a população paranaense,
Com a Emenda Constitucional (EM) 95, aprovada pelos predadores, o Sistema Único de Saúde (SUS), a Educação Pública, Bolsa Família e tantos outros direitos estão sendo corroídos.
Jair M. Bolsonaro e os Ratinhos do momento — além do paranaense,  Doria, Witzel e outros — , assim como os roedores da família Muridae, contribuem através da EC 95, mesmo que indiretamente, para a disseminação de doenças e a destruição do futuro.
Tenho observado a crescente onda de tristeza e desesperança que está tomando conta do povo.
Ouço muita gente que só tem um sonho: ir embora do Brasil.
É possível retomar o sonho e a alegria, desde que, unidos, possamos  desferir, como vi em Caldas Novas, uma bicuda em cada um dos roedores.
Não pense em violência, não.  A bicuda é na política.
É ir para a rua e colocar os predadores para fora. Colocá-los para  ‘voar’ para longe do poder do Estado.
*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.

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