3/10/2020

Sem sindicato não há organização e nem resistência - artigo de Ênio Verri

Uma das condições para o capitalismo financeiro cumprir sua agenda econômica ultraliberal é destruir os espaços de organização da classe trabalhadora. As medidas impostas sobre os trabalhadores são de tal forma devastadoras, que é necessário mantê-los enfraquecidos e dispersos. Somente assim para obriga-los a trabalhar sete dias da semana, para ganhar até dois salários mínimos, sem direito a férias, 13º, aposentadoria, adicional de insalubridade e periculosidade. As relações entre os donos dos meios de produção e os trabalhadores estão sendo todas desregulamentadas. Temer e Bolsonaro suprimiram importantes conquistas de homens e mulheres conscientes dos indecentes e exorbitantes lucros do capital sobre o trabalho. E o modelo federal está sendo copiado pelo estado do Paraná.
Nesse sentido age o governador, Ratinho Júnior. Pleno de confiança nos efeitos que a demonização da esquerda e dos sindicatos causam na classe trabalhadora, ele baixou os decretos 3793/19, 3808/2020 e 3978/2020. Na prática, ele obriga os trabalhadores a um recadastramento de filiação a sindicatos e associações para o governo manter o recolhimento de consignações assistenciais dos sindicatos, como planos de saúde, seguros entre outras. Nada mais é que uma política antissindical, que visa enfraquecer financeiramente a melhor ferramenta que a democracia criou para a organização da classe trabalhadora. Além asfixiar os sindicatos, desrespeita porque despreza a lisura e a seriedade dos sindicatos, que são dos trabalhadores.
Quando os trabalhadores não têm uma entidade representativa que defenda seus direitos contra os ataques perpetrados pelos donos do capital, o destino de todos é viver para trabalhar e não trabalhar para viver. Ao longo da história, todas as conquistas de quem produz as riquezas foram de muita luta e resistência, baseadas, fundamentalmente, na organização. É fato que os sindicatos dos trabalhadores estão cheios de problemas de gestão e de representatividade. Eles não são formados de pessoas especiais, diferenciadas dos demais trabalhadores de uma mesma categoria. Como todo ser humano, o sindicalista é falível e os sindicatos carecem de reformas que promovam a reaproximação dos trabalhadores das entidades que os representam.
Desfazer-se deles é justamente o que os patrões desejam. Eles vão estimular os trabalhadores para que assim o façam. A imprensa, que é a voz dos donos dos meios de produção, seguirão com o plano de destruir a capacidade de organização e resistência dos trabalhadores ante aos retrocessos impostos pelos lucros dos ultraliberais. Trabalhador algum, individualmente, tem condições de enfrentar as imposições do capital sobre o trabalho. A história demonstra que a organização é a única maneira de a classe trabalhadora defender não apenas a manutenção, mas, também, o avanço de conquistas, frente aos crescentes ganhos da mais valia sobre a força de trabalho. O governo ameaçou deixar de recolher para determinadas rubricas, mas não há ameaça de suspensão de proventos para pagamento de empréstimos consignados que os trabalhadores contraem. Para receber um determinado benefício, o trabalhador deve atualizar filiação. Porém, para alimentar o mercado financeiro, esse mesmo trabalhador está devidamente cadastrado.
A mentalidade dos liberais brasileiros é a de entreguista, enquanto que a dos estrangeiros é a do explorador predador. É incrível que, em pleno século 21, trabalhadores elegem parlamentares e governadores que atentam contra a economia de um modo geral, uma vez que retiram dinheiro de circulação e asfixiam financeiramente os instrumentos de organização dos trabalhadores. Servidores públicos e da iniciativa privada, de todas as categorias, só têm a perder com o enfraquecimento de seus sindicatos. Deixar de fortalecê-los, agora, acarretará um duplo trabalho à classe trabalhadora, que se verá obrigada a se organizar para reconstruí-los sindicatos. É vital e urgente que os trabalhadores se organizem para manter o que ainda resta dos seus direitos. Até o momento, os sindicatos são o espaço que pode salvar a classe trabalhadora.
*Enio Verri é economista e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal (PT-PR) e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados.

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